Dedicado aos Emigrantes Portugueses

Esta foi a carta aberta dedicada aos Emigrantes Portugueses
que se viram forçados a ir viver para o estrangeiro, em busca de uma vida melhor e escrita por Mário Gonçalves no seu Facebook

Olá emigrante,

Hoje decidi escrever-te. Não sei se sabes mas os ares por cá, no teu País que te viu sair do mesmo, carregado de lágrimas e em busca de um futuro melhor, continua na mesma.

Não há forma de contornar a situação. Só se fala de futebol, apresentadores de televisão, presidentes que continuam a ignorar a olhos vistos os verdadeiros problemas do seu País, corruptos ilibados, ordenado mínimo miserável.

Impostos a subir cada vez mais, idosos a passar fome e sem dinheiro para medicação, casais a morar dentro dos carros, vítimas de incêndio sem as suas casas após nós, os portugueses, termos doado milhares de euros para a reconstrução das mesmas e este, dinheiro, ter desaparecido…

Enfim, uma panóplia de situações lamentáveis que o meu País atravessa, o nosso País meu querido(a) emigrante.

Sabes?

Eu sei que a vida para ti também não está nada fácil por esses lados. Longe da família. Dos amigos. A trabalhar horas e horas a fio para teres uma melhor qualidade de vida.

A adaptação a um País que não é teu, muitas das vezes descriminado, não só aí, mas também por cá, onde muita gente pensa que estás a viver uma vida de sonho, quando na verdade não sabem as lágrimas que deitas todas as noites, agarrado ao telemóvel a falar com os teus familiares, ou a ver fotos do passado quando ainda eras novo e sonhavas fazer uma vida no teu País.

A saudade emigrante. A saudade misturada com revolta por ninguém te compreender.

Mas olha, não fiques triste. Por um lado sei que não é fácil, mas por outro, embora os nossos governantes digam o contrário, há muito mais gente a querer fazer o mesmo que tu. Eu sou um deles. Não há futuro no nosso País. O dinheiro não cai do céu.

Fartamo-nos de trabalhar e não há recompensas. Não há trabalho. Os nossos governantes teimam em fechar os olhos. Nós, como sempre, continuamos a votar e a eleger sempre os mesmos. Somos um povo masoquista.

Deixa-te estar aí. Só mesmo em último recurso é que venhas. A vida aqui não está fácil. A bem ou mal, estás melhor que muitos de nós. Ou então vem, vem e muda isto meu querido(a) emigrante. Nós estamos cansados. Nós já não somos o povo lusitano que éramos faz anos. Já não somos um povo com história. Somos um povo ridicularizado pelo País que te acolheu. Merecemos isso. Deixámos que isso acontecesse.

Hoje somos apenas um povo cansado. Com lágrimas de dor. Muitos porque te têm a ti longe, que és família. Outros porque estão cansados da vida que levam no seu País e estão a chegar ao limite.

Aqui? Aqui já não há mais nada. Há sim um bando de salafrários que se juntaram para nos sugar até ao tutano. E nós, vamos deixando. Até já não restar nada.

Um abraço apertado emigrante.

Do vosso amigo que não se esquece de vocês.

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